O Sapo






O sapo
bom de papo
coaxava coagia:


Jilda,
minha jia,
eu te guio
te levo pro rio
te cubro do frio
te dou um inseto.


Jilda,
eu te completo.


O sapo
             
falava,
não agia;

Jilda só disse,
rouca de meiguice:

         sapo,
       eu te capo!

Punhais Íntimos




                                                        
Em quantas coisas

gastamos a vida:



na busca da riqueza,

na ambição desmedida,



na gula, na avareza,

nas vãs palavras, nas brigas,



nas vaidades, na incerteza,

nos ciúmes, nas intrigas.



Com quantos punhais íntimos

nos ferimos...



e somos tão fortes

que nem sentimos



as tantas pequenas mortes

em que vamos perdendo a vida.

BOIS AZUIS






Pela etérea palhada dos meus sonhos
os bois azuis repastam brisa e luar
e suas leves ancas tecem danças
entre as finas e brancas sedas do ar.

Os longos chifres luzem nos relumbres
do orvalho que se move devagar
e dos úmidos olhos vagam-lumes
para o alto, para o além, o algum lugar.

A efêmera manada então descansa
e nas palhas da noite se desmama
a rarefeita sede de sonhar.

Aos poucos a manhã azul se impõe
e encobre a aura, e luz, e espanta o sonho:
meus bois azuis refluem no luar.

SUSTO






A volta à fazenda
que susto me deu:


meu filho, cuidado

que o boi brabo
te pega em mim!