Olhar um rio seco
é sabê-lo morto
e enterrado
em seu próprio leito.
Ver o leito seco
de um rio peco
é ver em sua cova
os sinais da morte
que nada e se desova
campeia e manobra
onde só sobram
rastos de ratos e cobras.
Ver um ex-rio
em sua vala de pó
é saber que bocas
ocas e fundas
morderam-lhe as veias
e sugaram-lhe, sem dó,
gota a gota,
suas águas todas,
todo o seu ser.
Com um rio morto
morrem, além das águas,
outras vidas:
morrem algas,
limos e peixes;
morrem frutos,
flores, espigas,
ninhos e voos
e tudo o que viceja
pelas margens verdes.
E morreram ainda,
com o rio findo,
outras esperanças...
morreram regatos,
cacimbas e lagos.
Por falta d'água
morreram crianças!
Quando se vê
um rio morto
sabe-se logo que
não foi morte natural,
pois toda fonte nasce e vive
para sempre correr
até seu destino final,
que é o céu das águas,
o mar.
Ver um rio morto
como deprime!
E saber:
se não há condenados,
há o abominável crime!
(poema inédito em livro)
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