HÁ COISAS


Há coisas que a vida ensina a esquecer
para que não fiquem doendo as retinas
cansadas de esperar para rever
imagens que nos chegam pequeninas:
o galo cantando ao amanhecer,
o gado manso pastando as campinas,
o pai galopando ao entardecer,
a mãe rezando à luz das lamparinas.
Para que não fiquem doendo as retinas
há coisas que a vida manda esquecer:
mangas maduras lá nas verdes grimpas,
olhos d'água que pegam a correr
numa dessas manhãs de chuvas finas
em que o menino quer adoecer.

(poema publicado na antologia Pedras de Minas - Poemas Gerais, p.186)

5 comentários:

Andrea de Godoy Neto disse...

que poema bonito de saudades

vou guardar sempre comigo esses versos:
"Há coisas que a vida ensina a esquecer
para que não fiquem doendo as retinas"
um jeito tão lindo e simples de dizer uma verdade.

um abraço pra ti, Wilson!

Tania regina Contreiras disse...

Wilson, a vida ensina a esquecer, o poeta traz de volta, que doam as retinas, se esta é a minha sina: ler e ainda me enternecer. Lembranças tantas você me trouxe!
Beijos,

Bípede Falante disse...

E agora que acabo de pensar em todas elas? :)
Provocante esse poema!
beijo
BF

Wilson Torres Nanini disse...

"imagens que nos chegam pequeninas",

isso, isso! isso é o que, de fato, com todo meu ser, busco!

Abraços!

Primeira Pessoa disse...

um primor de poema, wilson.

repito: nenhum outro autor brasileiro, hoje, retrata a infância tão bem quanto você, eterno menino.

so fã demais.