O canto do galo

 

Canta o galo

e tanto canta

que o canto

                 lhe faz calo

na garganta.

 

Como se fosse pouco

                 o quanto cantara

mais canto exara

até ficar rouco.

 

Ainda assim não se cala:

tanto mais canta

quanto mais a noite se aclara.

 

E da garganta ferida

o canto agora

sai quente e doído

 e vai pingar uma gota de sangue

no poço frio da aurora.

Ovelha Negra

 

 

O poeta vai, aos poucos,

subindo o Monte Olimpo,

tangendo seu rebanho de poemas:

 

ovelhas de lã clara,

de hábitos macios,

de olhares líricos,

de ritmados passos,

de faro altivo.

 

No entanto

no meio do rebanho

segue a ovelha negra:

 

audaz e destemida

cabeça erguida

segura em seu livre arbítrio;

 

com seu irreverente balido

protesta contra injustiças,

preconceitos, violência,

contra corruptos e milícias,

contra falsidades e preguiça.

 

E por ser distinta e insurrecta

 

é a preferida do poeta.

Águas da Vida

 


 

 

A vida

são águas que fluem

da nascente à foz

de nós.

 

Águas

que vão crescendo,

encorpando

com as vidas afluentes.

 

Difícil, para alguns,

é  preservar as águas de si

sempre puras e transparentes,

sem contaminações influentes.

 

Com meu pai

de outro modo é que se deu:

ele correu suas águas riachinhas

limpas, boas de se beber, sempre.

 

Limpeza de se dar exemplo

(muito de mim, eu aprendi dele).

 

 

Naquele dia distante, assim é que pensei:

que meu pai não morreu!

 

Meu pai desaguou em Deus.

Resgate

 

Eu esqueci o menino

no sol, na chuva, no tempo,

ao desalento.

 

Agora, escrevi um poema

e trouxe o menino

para dentro

                            de mim.

Ciúme

 


 

O ciúme trai o amor

e atrai a intriga.

 

O ciúme,

sem fundamento,

se auto-sustenta

com a dúvida 

e o tormento.

 

O ciúme se inflama,

representa, improvisa.

 

O ciúme inventa brigas

(de) que o amor não precisa.

 

O ciúme faz cena, faz drama

e faz mal ao coração de quem ama.

S/T

 



Quem me dera

Subir pelo arco-íris

E semear chuvas coloridas

Nos campos da primavera.

 

Hora Clara

 

 

 

 

Poeta Thiago de Mello,

a minha palavra

junta-se à tua

na faina de anunciar:

 

 

se se faz escuro,

é hora de clarear.

 

 

A noite já vem longa

dos quartéis de assombro

pisando com seus coturnos

o sol dos homens.

 

 

Poetas soturnos,

operários da sombra,

apeai de vossos ontens:

 

 

incendiai a aurora

e enterrai o monstro!